NÃO MAIS OPORTUNIDADES PERDIDAS


NÃO MAIS OPORTUNIDADES PERDIDAS.



Questiono-me sobre o que me prende tanto àquela fotografia que a Maria me enviou.
Afinal - mais não é - que uma foto do seu pai e do seu jovem filho.
Porque não consigo parar de a olhar fixa e repetidamente?!
Observo-a mais uma vez.
Não me canso.
É o enorme e sentido abraço do avô ao neto que me transmite uma paz indescritível, sentados num banco de jardim, com a imensidão do mar à sua frente que se agarra à minha mente?
Será antes o suave contraste dos cabelos brancos do pai da Maria com o azul das suas roupas e do mar?!
Paro.
Penso.
Recuo no tempo, apenas uns meses atrás.
E invade-me a memória - aquela o tempo teima em roubar-me - os gritos lancinantes da Leonor de oito anos, quando soube que o avô que a tinha acabado de levar à escola morreu.
Pensei que as crianças não se desesperavam, que apenas sorriam, brincavam...
Então, tal qual intruso, entrei fotografia adentro e ouvi - o que imaginei - falarem aquele avô e neto.
O Afonso com a cabeça recostada no ombro do João e na inocência da sua pouca idade, pergunta-lhe:
- Avô, onde acaba o mar?
E o João respondeu-lhe: Não termina, meu querido, funde-se com o céu, não vês como tudo é azul?!
O Afonso observa-o e o avô continua.
Hoje estamos aqui.
No ano passado estiveste ali - apontando para o mar e lembrando-lhe o cruzeiro que ele havia feito com os pais.
Amanhã poderei estar ali - apontando na direção do céu.
Tão novo, o Afonso, mas bebendo cada palavra que o avô lhe dizia.
Quando vieste do cruzeiro, o avô estava cá à tua espera, para te abraçar.
Quando o avô estiver lá em cima, esperará por ti, com um abraço igual.
Que pena Leonor - lágrimas salgadas rasgam-me o rosto - não tiveste igual oportunidade.

Texto da autoria de Lurdes Mesquita Babo

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