Não vás embora, pai.

             Não vás embora, pai. 

          Não te vás embora pai - sem me mostrares outra vez os pomares de maçã, de cereja e de todas as frutas que fizeram de ti um respeitável homem de negócios. Hoje sou mulher adulta, mas sei que a tua preocupação seria a mesma se me visses trepar uma árvore. Contigo aprendi que, quem dirige, deve ser sempre o primeiro a dar o exemplo - lição de vida que nunca esquecerei!

Não vás embora pai, sem me levares contigo uma última vez ao futebol, porque foi por ti e contigo que iniciei a paixão pelo nosso clube.

Não te vás embora pai, sem te sentares muitas vezes na tua nova cadeira e me contares, outras mil, as estórias do teu passado na guerra do ultramar, em Moçambique. E eu, querido Pai, ler-te-ei, quantas vezes o desejares, o texto que escrevi sobre tais memórias.

Não te vás embora, pai, mas se fores, fica sabendo que, no meu mais profundo âmago, guardarei o orgulho que sinto em ti, do self made man que te fizeste. A vida não te deu a oportunidade de seres doutor ou engenheiro, mas tu foste sempre o meu special man. A tua sapiência sempre exerceu sobre mim um infindável fascínio – é que aprendeste tudo (e tanto!) sozinho! 

Não te vás embora, pai, mas se fores, vai com a certeza que as tuas recordações permanecerão, eternamente, gravadas em mim.

     Não te vás embora, pai: não te esqueças que tens de concretizar o teu sonho de seres bisavô. Mas se a vida nos fizer tal crueldade, vai convicto que o teu bisneto, conhecer-te-á até ao mais ínfimo pormenor.