Convite fatal

         Maria não se calava nem por um minuto, transbordava felicidade. Afinal tinha sido convidada para passar uns dias de férias em casa da amiga Matilde Albuquerque. Os pais, inicialmente, torceram o nariz à situação, mas a filha lá acabou por os convencer. Eles receavam por não conhecer bem aquela família e sempre seriam quinze dias das férias de verão. Mas as adolescentes, que eram as melhores amigas na escola, não cabiam em si de contentamento. Projetos e projetos viajavam nas suas cabeças, dos quais não conseguiam guardar segredo. Corriam mutuamente para os partilhar, facto que empolava a respetiva imaginação e o seu estado de contentamento.

Isabel, mãe da Matilde, mulher de mangas arregaçadas que não virava a cara à labuta, não havia conseguido tirar esses dias de férias. Era administradora de uma multinacional e trabalho era o que nunca lhe faltava. Definia-se como uma mulher profissionalmente realizada, por gostar imenso do que fazia. E o seu labor era reconhecido pela sua entidade empregadora, mas considerado excessivo pelo marido. Ao contrário, este estaria nesse período, em pleno gozo de férias. Era sobre ele que incumbiria a responsabilidade de tomar conta das duas adolescentes de doze anos.

A família de Matilde era considerada da classe média-alta. Rui era arquiteto de profissão, notável, pela certa, vendo-se pelo local onde viviam. A beleza da construção da casa aliava-se à originalidade da mesma e de toda a sua envolvência.

Finalmente Maria chegou para cumprir um sonho de verão. 

Mas nem sempre os sonhos se concretizam; nem sempre seguem o curso que a nossa imaginação lhes deu. Talvez porque a realidade muitas vezes a ultrapassa. Foi o que aconteceu com Maria, na primeira vez que acedeu a interromper o sono e a entrar no quarto de Rui. Foi quando, à lei da dor, se tornou menina-mulher. 

 


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