Não vás mais por aí.
Não vás mais por aí.
Tantos anos a dizer-lhe o mesmo. O seu corpo esvai-se em exaustão. É de um esforço indizível pronunciá-lo sequer - já lhe causa náuseas.
Antigamente, ela dizia-o e ele enchia-a de promessas vãs:
- Nunca mais! vais ver; desta é que é.
Então ela vestia-se de esperança. Ela acreditava nele. Só que ele sempre lhe falhou, como ainda hoje falha. Ela sentia-se (e sente-se) igual a nada. Incompetente! Incapaz de lhe fazer ver o óbvio à sua frente. Ele insiste em seguir pelos mesmos caminhos: direito - à míngua de dias, o que compensa nos outros por excesso.
Agora mudou. Já não promete. E ela já não se sente mais enganada. Deixou foi de crer em finais felizes. Ainda assim, de quando em vez, ainda se atreve a dizer-lhe:
- Não vás mais por aí.
Frase que agora esbarra num muro de silêncio. Ou na indignação dele sustentada pela razão que inventa ter.
A força dela esmorece porque está sozinha há anos nesta luta inglória. Todos lhe confidenciam sobre aquela fraqueza dele. Sim, a ela - porque lhes falta a coragem de lhe dizerem ou por não serem problemas seus.
Hoje ela decidiu: que não vai mais por aí. As lutas cansam. As inúteis matam: a autoestima e o amor. Então decidiu deixá-lo seguir essa viagem pela estrada que ele escolheu. Seguirá por aí convicto da razão que, malogradamente, não tem. Mas, a partir de agora, fá-lo-á sozinho. Porque ela tem direito a escolher o seu caminho. Afinal sempre andou todo este tempo enganada. Pensava que o amor chegava, mas estava errada. Por isso, não quer mais seguir por ali. É um direito dela!
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