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O Capuchinho Vermelho dos tempos modernos



Era uma vez uma jovem adolescente cuja Avó materna vivia – como quase todas as avós dos tempos hodiernos – sozinha. Mas esta vivia numa casa na Serra da Solidão onde, como o próprio nome indica, mais ninguém aí habitava. Tinha como companhia há já longos anos um lobo, o qual estava domesticado e era terrivelmente ciumento da sua dona. 
Tinha a alcunha de “Capuchinho Vermelho” porque os colegas da velha escola primária lha puseram dado que, durante o inverno, vestisse ela a roupa vestisse, a mãe enfiava-lhe sempre um casaco vermelho de fazenda com capuz para a proteger do frio. 
Coisas de Mãe, vocês sabem.
Mas saibam também que o Capuchinho Vermelho tinha nome: chamava-se “Sofia”; a Avó “Maria” e a sua Mãe “Margarida”.
Imaginem que até o lobo tinha nome! 
A Avó chamou-o de “Companhia”, tal era a que ele lhe fazia. E não era só em casa, não. Eram também os longos passeios diários que faziam sempre Serra acima, Serra abaixo. Por isso, a Avó Maria apesar dos seus oitenta anos estava tão em forma.
Margarida sentia pena da mãe viver naquelas condições, mas não conseguia arrancá-la de lá. E ela tinha a sua vida e da sua família instalada na cidade, o trabalho dela e do marido, a escola dos filhos; não podia mesmo dali sair.
A Avó Maria, que não concordava nada com tal postura, tinha-se tornado uma pessoa revoltada, a tal ponto de deixar de falar com a filha. A única pessoa que ela, ainda, recebia era a neta. Que, verdade se diga, não gostava muito de lá ir. Por um lado, ia sempre carregada de coisas para Avó, por outro lado, tinha de ouvir sempre o sermão da mãe – vai com cuidado, não vás com estranhos, olha que é perigoso – e ainda tinha de levar com os ciúmes do “ Companhia” e a os maus e sempre iguais recados da Avó para Mãe:
- Diz-lhe que não tenho filha, que não preciso de migalhas da cidade, (...).
Nesse dia a mãe tinha lhe dito para ir lá mas, desta vez, Sofia  decidiu que não ia sozinha, não. Tinha um amigo íntimo, o Miguel, o qual tinha conhecido no facebook há quinze dias e que mal soube que ela ia à Serra ofereceu-se para ir com ela. Mas porque não havia ela de aceitar a sua companhia? Bolas, lá para as ideias da mãe que tinha medo até da própria sombra. 
Decidiu então encontrar-se com ele  num café que existia perto da Serra, que tinha por nome “Café Sem Gente”. Edaí começaram a subida da Serra da Solidão. 
Logo de início, Sofia, estranhou a cara de Miguel. Parecia-lhe tão diferente da foto do face, muito mais velho. Mas a verdade é que ela, para reconhecimentos faciais, nunca foi lá grande coisa. Mas algo estava a assustá-la: a forma como ele olhava para ela enquanto caminhavam, olhos arregalados, com as órbitras quase deles saindo, aproximando-se cada vez mais dela e babando-se. 
Queres ver que a Mãe tinha razão? – pensou para si.
Vá, Sofia, acalma-te já vês a casa da Avó Maria ao fundo. Disfarça. Faz de conta que não percebes quando ele diz que és linda, que és muito jeitosa. Muda de assunto.
- Olha, Miguel a casa da minha Avó... ali. Vamos correr. 
E assim lá chegaram.
Capuchinho Vermelho bateu à porta.
Ufa, que alívio. 
Avó, Avó, sou eu a tua neta.
Abriu a porta o mal-encarado do Companhia ao mesmo tempo que a Avó lhe dizia para entrar. 
Mas Avó eu trouxe um amigo, o Miguel. Ao que ela lhe retorquiu que entrasse também.
Entraram.
Sofia disse-lhe:
- Avó, apresento-te o ...
- António – respondeu-lhe de imediato a Maria.
- Não, Avó, o Miguel.
- Não, Capuchinho, o António.
Olhou com um ar de estupefacção para a Avó e para o Miguel ( ou António?) e perguntou-lhes ( sim porque ela jovem mas não era burra) :
- Vocês conhecem-se?
Risada geral.
- Claro que sim. – responderam em uníssono. 
- O António é um homem que vem há muitos anos caçar para a Serra da Solidão. E quando me falou dessas modernices dos faces, logo vi que vos ia apanhar. A tua Mãe porque é uma desmiolada e tu porque, infelizmente, sais a ela.
- Mas Avó, tu viste o perigo em que me colocaste? Tu és a vilã desta história real. Tens mais respeito pelo Companhia do que por mim e da minha mãe, que somos a tua família .– perguntou e afirmou ao mesmo tempo o Capuchinho Vermelho irado.
 - Não, Capuchinho. Pensa bem na lição que vos quis ensinar. E daqui a um tempo voltamos a falar sobre o assunto – respondeu-lhe a Avó.
Sofia veio embora pensativa pelo caminho.
Será que a Avó tinha razão?
Será que a moral desta história é que os vilões nem sempre são quem parecem?
Este conflito não lhe saía da cabeça. Assim como a curiosidade sobre o que iria dizer a sua Mãe de tudo isto.







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