Amor de Mãe!

                        
                        “Mãe, não saias de casa. Por favor! Cuida-te! Adoro-te!”.

Aquelas palavras eram bordadas a algodão doce: incisivas mas tão açucaradas como a sua bordadeira - que coloria a estrada da vida com as suas colmeias. A sua existência desenrolava-se como uma bola de algodão que se alimenta, em crescendo, de cristais de açúcar. Assim era ela: a cada dia mais doce; um ser único e especial. 
E a mãe sentiu o coração nutrido. Embora fosse difícil, sabia que tinha que a escutar. Tinha de ficar - de praticar o verbo desapegar. Era um desligar que levaria, um dia, à (re)união. Mas o tempo teimava em movimentar-se devagar. Raios, quão caprichoso! 
A progenitora - com o cérebro em carrossel - começou a fantasiar. De enfastiada que estava, o marido ousou desafiar: pegas no automóvel, aceleras estrada fora e só páras junto ao prédio dela. 
- Mas tu não podes sair, mulher - disse-lhe ele. 
Ao que ela contrapôs: a filha viria à tribuna, ver-se-iam e conversariam da rua - assim silenciariam a saudade. 
O progenitor achou que a mulher estava a sofrer da síndrome do confinamento. Fazer seiscentos quilómetros só para se olharem e comunicarem? Quanta loucura! Era o que mais faltava! Ganha mas é juízo, mulher! Este tempo há-de passar!
É por isso que as mulheres são as cegonhas! - desabafou ela. Pai, não sabe, nem sente o que é esta afeição: é acordar a pensar nela, dormir sonhando com ela e trabalhar visualizando-a. É recordá-la embrião, a dar os primeiros passos; é revisitar o primeiro abraço. É relembrar - chorando - quando lhe chamou: Mãe. É sentir a nostalgia de a levar à escola, das festinhas de aniversário, de a ver - sozinha - caminhando. É a alegria de a ver chegando. É: Amor de Mãe!



                        





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