Insensibilidade




- Vamos! Rápido!- berrou.
- Chefe, fazemos o quê agora?- perguntou Manuel.
- Anormal, já não te disse? Tira-me essas máscaras, luvas e batas de dentro das caixas. Vamos levar tudo!
- Ó Chefe, mas assim dá muito trabalho. Porque não pegamos logo nas caixas e saímos daqui?
 - És mesmo burro! O que vale é que foste pago só para trabalhar! Faz o que te digo!
- Mas ...Chefe...
- Chefe, o caraças! Queres levar as caixas para que identifiquem a proveniência do roubo? És burro todos os dias! Faz o que te mando, merda!


José acordou com o barulho e a gritaria. Não sabia o que estava ali a fazer. Nem sabia o que eles estavam ali a fazer mas pela conversa ralhada começava a perceber: era testemunha presencial de um roubo naquele local - embora ignorasse como ali tinha ido parar. Restava-lhe: esconder-se. O barulho da pressa em não serem apanhados era intenso; ruído que o impedia de tentar recordar-se do que lhe havia sucedido. Só que, de repente fez-se luz. José lembrou-se que aquele armazém e a mercadoria eram seus e que tinha sido brutalmente agredido quando o encerrava.


- Malta, mais rápido. Despachem-se! Querem ser apanhados?
- Ó Chefe, fogo, abrir todas as caixas e tirar o material dá cá uma trabalheira!  
- Olha que esta porcaria está toda vendida. Não se pode perder nada. Toni vai ver se o gajo está vivo!
- Ó Patrão, está caído que nem um tordo!
- Deixa-o estar então: apressa-te.


Desta já se tinha safo: o José. Desta e do vírus que ainda não o tinha visitado. Devia sentir-se feliz. Mas só pensava: que filhos da mãe! Até num momento de tamanha desgraça, o crime para eles compensava: roubo de material dos hospitais. Que gajos sem coração!

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