Até Sempre!

     

 

 

                                                                                      


                                                                                                    Porto, 09.09.2020

 

 

 

 

Quando leres esta carta já cá não estarei. Mas quero que saibas da minha partida. Parto deixando-te de herança: o sol, o odor a maresia, o azul do mar que tanto me inebria e a tórrida areia dourada. Fica a ser teu também, por direito, o infinito: para que nele te possas perder e encontrar. Lego-te tudo o que de melhor tinha. Tomei consciência da minha finitude, por isso, tenho de ir. Aqui me despojo do era para sempre – não compro mais esta ideia, nem sequer a aceito gratuitamente. Não, não era para sempre! Enquanto durou, foi o que foi. 

Parto.

Parto, mas sigo inteira. 

Parto, mas não carrego saudades. 

Levo comigo o meu quinhão hereditário: liberdade, integridade, dignidade, amor próprio e crença num novo amanhã. Levo comigo o ruído do silêncio. 

Enterrei as mágoas, os desgostos e as desilusões. 

No passado ficou o meu coração triste e assustado; no futuro, o meu Eu que promete. 

Sigo leve - e pesada (por que repleta de mim). E como me sinto bem! Eu comigo! Eu calcorreando o meu caminho (eu deixando para trás o teu) – e como sozinha consigo caminhar!

O temor apagou-se do meu horizonte. Os meus batimentos cardíacos regressaram à normalidade. 

Parto.

Parto, mas vazia de medo.

Parto, mas não carrego culpa pela partida. Também não te deixo esse legado.

Simplesmente aconteceu. 

           Simplesmente o amor se esvaneceu.

           Simplesmente.

Para sempre Eu – e a minha paz. 

Para sempre Eu - e o respeito por mim.

 

 

 

                                                                                                            

 

Até sempre!

 

 

                                                                                     Assinado: O meu novo Eu. 

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