Amizades Perdidas

  

Já não o via há mais de uma década quando se cruzou comigo numa rua da baixa. Chamou-me. Voltei-me. Observei-o. Não o reconheci. Perguntou-me (com ar indignado): então não te lembras de mim? E não! Não me lembrava. Disse-me quem era. Reconheci-o pelo nome. Pelo físico, não! Incrível - o que uma dezena de anos faz à fisionomia das pessoas! Lembrava-me dele da secundária - mas diferente: sem barriga, mais novo e com cabelo. 

Damos início à verborreia: há quanto tempo! Então o que é feito de ti? E de ti? Já casaste? E filhos tens? Que fazes?

Respondemos. E a cada resposta dada sentíamos que já não nos conhecíamos. Mesclamos a deceção com a alegria das recordações. Lembramos episódios passados. Relembramos os amigos de outrora - os quais não vemos e de nada sabemos. Então, entristecemos. Esvaímos as memórias - e o vazio tomou conta de nós. Tão amigos que fomos! Verbo no passado! Mas, agora, apesar de todas as reminiscências não somos mais do que dois estranhos. E o que confidenciam, um ao outro, estranhos? Nada! Iludem-se mutuamente! Temos de marcar qualquer coisa. Claro, vamos marcar! Com certeza! Temos de nos voltar a encontrar. Só balelas

Assim que viramos costas, cada um continua a sua caminhada noutro sentido - a da vida adulta. Aquela em que o peso do tempo se faz sentir com toda a sua violência. Aquela que nos rouba tempo livre (depois vem a maturidade trazê-lo de sobra - mas aí a vida já tem prazo curto!).

São amizades em que os amigos da escola se transformam em colegas de trabalho. São amizades que chumbaram no exame do tempo. São amizades que perderam a batalha para a guerra da rotina. São amizades que se perdem na estrada da vida,  por seguirem direções opostas. Foram amizades.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares