Mistério

  

 

 

 

 

O ritmo das sessões de quimioterapia de Maria era igual ao do seu definhamento. Daí que, a médica que a seguia, tivesse introduzido na última consulta o tema dos cuidados paliativos. Maria estava acompanhada da filha. Perante a agreste novidade, cruzaram olhares, sem dizer palavra – as duas conheciam bem o significado daquele aviso disfarçado de nova. Ana sabia que o epílogo da vida da mãe estava por perto. Tinha decidido recorrer à ajuda psicologia:  trabalhava antecipadamente o luto e aprendia a lidar com ele.  Não sabia se resultaria - mas, perante o inevitável, tinha de criar as suas estratégias de defesa.

Cedo a negritude tomou conta da sua página de facebook. Nela partilhou a sua dor: 

Hoje, despedi-me da minha querida mãe. Não tenho palavras para expressar a minha dor. Para quem lhe quiser prestar uma última homenagem o funeral é...”.

Nesse dia, Ana vestiu a mãe e despediu-se dela no caixão - ao seu lado colocou o telemóvel. Coisas das sessões com a psicóloga! Modos de lidar com o luto – cada um com o seu. Depois do funeral, passou a enviar-lhe mensagens escritas: desabafando a sua dor, o seu estado de espírito e escrevendo sobre a saudade que sentia. E assim foi no outro dia e nos que lhe seguiram - até ao momento em que caiu no seu telefone uma certa mensagem escrita. Ana leu-a e petrificou: 

Eu estou bem aqui filha, fica tranquila. Cuida de ti!” 

Como assim Que sms era esta? Tinha colocado o telemóvel junto da mãe, mas desligado - disso tinha a certeza! Quantas mensagens escritas, sem resposta, já lhe tinha enviado e agora recebia esta vinda do além? 

A saudade era tanta que Ana nem se lembrara que a operadora, ao fim de algum tempo, reatribuía os números fora de serviço. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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