PORQUE SIM

  

Apetece-me dizer-te para agires de acordo com o que me dizes por subterfúgios, ausências e silêncios.

Apetece-me dizer-te: deixa-me em paz, fica onde estás, vai para onde desejas. Mas não brinques ao faz de conta que me queres, que te preocupas.

Apetece-me dizer-te: não negues as mudanças evidentes nas nossas vidas.

Apetece-me dizer-te: acorda, não estás mais aqui, optaste por outros caminhos.

Apetece-me dizer-te: não partilhas mais afagos comigo porque, em face daqueles, tornei-me descartável.

Apetece-me dizer-te que já não somos o exemplo de alguém; ninguém mais quer ser como nós agora.

Apetece-me dizer-te: não te enganes a ti, nem a mim.

Apetece-me dizer-te que as tuas acções devem traduzir sempre os teus olhares e as palavras não ditas.

Apetece-me dizer-te: deixa-te de hipocrisias!

Apetece-me dizer-te: deixa de fazer de conta que gostas, que tens paciência, que estás ali para tudo, custe o que custar.

Apetece-me dizer-te que a solidão da tua presença, em caminhos que a vida me obriga constantemente a percorrer, gerou em mim uma revolta, incontrolável, do tamanho do mundo.

Apetece-me dizer-te - ou talvez não - sobre o sentimento que me invade quando oiço aquele nome e piso aquele chão.

Apetece-me dizer-te que não sabes nada, rigorosamente nada sobre mim.

Apetece-me dizer-te que até qualquer um percebe mais de mim em minutos, do que tu numa vida.

Apetece-me dizer-te allez, leave me alone, mi lasci stare.

Apetece-me dizer-te: põe-te a milhas, mais longe do que, física e espiritualmente, já estás.

Apetece-me dizer-te, por uma vez que seja, põe-te na Cochinchina.

Apetece-me dizer-te: vai ver se está a chover lá fora e já agora aproveita para ver se eu lá estou.

Apetece-me dizer-te: faz aquilo que verdadeiramente te apetece fazer, mas fá-lo, 

de uma vez por todas, porque para mim,

                                                                     that´s enough!

           

Texto da autoria de Lurdes Mesquita Babo.