A história de Mel

Natais há em que o Pai Natal nos prega partidas revelando-se doce, tipo mel.
Não pelas doçarias típicas de tal época festiva.
Não, nada disso.
Doce mesmo, como consequência das acções de pequenos seres humanos que apelidamos de crianças.
Este Natal conheci uma criança que só queria um cão. Na procura que se fez, logo apareceram os iluminados alegando que cão não é presente, vejam lá a quem entregam o cão, (...).
Adultos julgando crianças à velocidade superior à barreira do som.
Adultos julgando o amor que elas têm pelos animais, sem as conhecerem de lado algum.
Só que, esses são os mesmos adultos que não ignoram tratarem-se, vezes sem conta, de animais que foram abandonados ao frio e à fome.
E são os que com uma facilidade que faz doer, levantam o dedo para o apontar ao amor de uma criança por um animal, mas que nada fazem para mudar a situação deles. Continuam sentados confortavelmente nas suas casas, passeiam-se nos seus automóveis, fazem as suas compras natalícias, como se nada vissem nas ruas ou nas bermas da estrada, como se temporariamente cegassem e como se o abandono daqueles animais não se vestisse de desumanidade.
Mas, ainda assim, julgam-se seres superiores (auto)imbuídos da missão de dar lições de moral aos outros, retirada de um missal que não professam, nem praticam.
Eram seis entre cães e cadelas, todos recém-nascidos.
Quem os acolheu dava-lhes o que podia, alimentação e espaço para os proteger de perigos, como os da estrada.
A criança foi lá vê-los. Só podia trazer um.
Difícil decisão esta.
Sofreu, doeu, mas trouxe a cadela mais débil. Aquela que os outros cães, com o instinto de sobrevivência, afastavam do alimento necessário a um animal com apenas um mês de sobrevivência.
No dia de Natal, a criança, levou-a ao veterinário, sob chuva intensa, nevoeiro cerrado, desafiando a mãe natureza. Cuidou logo dela com tanto amor e carinho que fez correr lágrimas em muitas pérolas visuais.
Lição de Vida.
Lição de Natal.
Se há Natais que são tristes também há os que são doces.
Por isso, a cadela não podia deixar de se chamar Mel.
A Mel da doce Mafalda, com o coração a transbordar de amor.
Para os iluminados saibam que ainda estão lá cinco.

Texto da autoria de Lurdes Mesquita Babo.

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