O Monstro da Verdade.

Cheguei e pousei a carteira de imediato. Substituí a roupa usada naquele dia pelo confortável pijama.
Raios, mas porque teimo em fazê-lo em frente daquele monstro da verdade?
Lá está ele, colossal, mirando-me de alto a baixo.
E eu, qual formiga, cheia de raiva, atónita, de olhos fixos naquele cruel gigante.
Foi duro o diálogo que estabelecemos.
Que mania a dele, de se meter na minha vida.
- Estás gorda. Porque que engordaste tanto? – disse-me o Monstro.
- Que tens que ver com isso, seu inútil? Passas os dias aí, sem fazeres nada, e ainda te achas no direito de me incomodar após uma longa e dura jornada de trabalho - atirei-lhe.
- Olha para ela! A fugir da conversa. Não gosta da verdade. Já agora, só mais uma coisa,  reparaste como estás mais velha? – ripostou ele.
- Deve ser de festejar o meu aniversário todos os anos. Ao contrário de ti, nunca te vi fazê-lo. Passas a vida aí pregado, à espera das tuas presas. Nem vida própria se pode dizer que tens - disse-lhe num tom inimigo.
- Que mentirosa! – respondeu-me, acusando o toque.
- Posso viver em função de ti (e dos que por aqui passam gastando-
-me com o seu reflexo) mas isso nunca me impedirá de te dizer a verdade: estás gorda, velha e desleixada.
Hum....que raiva, que nervos!
Levei instintivamente as mãos à boca, (coisa feia de se fazer) e mordi-as todas. Ou isso, ou praticava boxe com ele, deixando-o em pedaços. Em tantos, quanto ele tinha deixado a minha auto-estima.
Respirei fundo e disse-me: acalma-te. Ele apenas está a cumprir a sua função. Tu é que não cumpres a tua. Deixa de lado, de uma vez por todas, esse teu cepticismo.
Aceita a realidade.
Ou
Muda-te.
Cuida-te.
Respeita-te
e
Ama-te. 



Texto de autoria de Lurdes Mesquita Babo

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