Pena?! Definitivamente, não.

Estavas tão bonito vestido a preceito.

E aí estava ele, sorridente, o dia com que sempre sonhamos.

Cuidamos de tudo até ao mais ínfimo pormenor.

A quinta com Capela do Século XIV foi escolhida meticulosamente, como pensei ter-te eleito a ti.

Os convidados foram selecionados com a precisão de um relógio, o que fiz também com o meu vestido, os meus sapatos, a indumentária das damas de honor e o bouquet de flores.

Sentia-me, igualmente, linda.

Entrei na Capela e vi-te junto ao altar.

Não te voltaste para me veres, o que associei ao nervosismo do momento.

Passo a passo caminhei até ao teu lado.

Observei-te todo, milimétrica e apaixonadamente.

Ainda me lembro do alfinete que tinhas na lapela do teu casaco, uma pena presa por um conjunto de pequenos botões para que daquela não fugisse. Achei tão original.

Nem estranhei os teus lábios cerrados pela ausência do teu habitual sorriso e daquele que a ocasião ditava ao veres-me.

Olhei na direcção dos teus olhos, mas não os encontrei.

Tocaste-me no braço e segredaste-me ao ouvido: querias falar comigo. A cegueira da paixão só fez-me pensar: surpresa antes do inicio da cerimónia. Claro que disse que sim. Fiz sinal aos presentes de que já voltávamos. Hoje lembro-me que se muitos sorriram porque pensaram o mesmo que eu, outros mostraram estranheza.

Já no exterior, cabisbaixo, confessaste-te. Não ao Padre, mas a mim: a tua namorada, noiva e futura mulher. Que num ápice passou a ex-namorada, ex-noiva e mulher sem futuro ao teu lado.

Não chorei.

Mantive-me fortaleza.

Amava-te. Mas também tinha Amor por mim.

Não quis que a pena da tua lapela passasse para mim ou para os convidados, por alguma razão, ela estava bem presa.
Juntos comunicamos a nova. 
No fim percebi ser um sonho só meu.