Explosão de Amor
Porto, 15 de Janeiro de 1993.
Meu Anjo:
(...)
Juro-te.
Fizemos a preparação para o parto natural obedecendo, rigorosamente, à enfermeira-
-parteira.
Mas eu, Mãe, te confesso. Quando foram exibidas imagens de um parto natural, não resisti e perguntei-lhe:
- Importa-se de pedir ao Doutor que me faça uma cesariana?
A sala de preparação virou gargalhada geral.
O que fui eu fazer!
Eu que sempre soube da existência da lei do retorno.
Na véspera, cheguei ao hospital, ao início da tarde, preparada por contracta, para o parto natural. Mas tu levaste à séria a minha proposta. Sempre generosa, fazendo-me a vontade.
Pela primeira vez, entrei num um bloco cirúrgico e levei anestesia geral.
Dizem-me que nasceste pelas 22.15 horas.
No meu regaço TU, após o recobro.
Eu, ainda, sob o efeito daquela, “olhei-te” e perguntei ao Doutor:
- É perfeitinha?
- Mãe, isso já não se pergunta! Mas sim, a sua filha é perfeita e linda. Teve é que nascer de cesariana. Estava a aproveitar a praia.
- A praia?
- Tinha um cotovelo encaixado, estava a apanhar sol.- ironizou.
- Pode-me tirá-la agora daqui que me está a magoar?
Arrancou-te de mim e entregou-te ao pai.
A cara do pai?
Mescla de susto e felicidade.
E eu, por força da anestesia, desliguei.
Compreendes agora o silêncio inicial desta minha carta?
Custou-me tanto!
Só acordei hoje de manhã, já mais desperta e consciente.
Então, tive-te de novo no meu regaço.
Não que as dores tivessem desaparecido, não!
Mas só TU interessavas.
Namorei-te toda: desde a amostra inexistente do teu cabelo até aos dedinhos dos teus pés: perfeitinha, rechonchuda, linda.
Nos nove meses anteriores em que te transportei, fui aprendendo o que era Amor.
Mas daquele capaz de nos fazer explodir o peito?
Filha, esse só o aprendi esta manhã.
Mãe,
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