Tanto que me dais

E eu que não o vejo nas minhas fases de cegueira.
Entro num mundo em forma de vulcão em erupção, este (e)leva-me ao seu limite.
As suas lavas escorrem-me pela face e as suas nuvens de cinza envolvem-me, proibindo-me assim de ver o tanto que me dão.
O quanto representam para mim.
O quanto me amam.
O quanto se dedicam a mim.
O quanto, por mim, sofrem.
Enquanto estou lá em cima, nada disto vislumbro sequer.
Vejo, outrossim, o mundo como se fora uma tela de cinema desligada. Aqui e ali, preenchida com palavras como “solidão”, “abandono”, “cansaço”, (...).
Então, tento encher-me de força, daquela que sopra para encher um balão de uma criança e digo, nesse mundo, para mim:
- Ok, se o caminho é o da solidão, é esse que seguirei. Eu vou conseguir. Não quero ninguém por pena comigo.
Só que há dias, em que os vulcões já não estão em actividade.
Nesses, eu lembro-me, antes, eu sinto:
- O vosso carinho, o amor que me têm, o quanto me querem tirar daquele mundo, o quanto por mim sofrem.
Vejo as vossas lágrimas.
Sinto os vosso abraços profundos.
Sinto os vossos sonoros beijos.
O esforço que querem fazer tirando-me daquele mundo, resgatando o meu sorriso de outrora que os meus lábios teimam em cerrar.
Mas não se esqueçam, ainda sinto as sequelas do vulcão em actividade. E depressa dou uma virada e entro num furacão.
Apanhada por ele, revolto-me.
Porque estão longe.
Porque não me amam.
Porque não me querem.
Porque sou um fardo, (não um mero peso pluma).  
Porque...porque...
Aquele vulcão que ora está pleno de actividade, ora se acalma e se cruza com um furacão, eu dou-lhe (como outros) um nome:
- Depressão.
Quisera eu sair dela já!


Texto da Autoria de Lurdes Mesquita Babo

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