Na vida tudo depende da perspectiva
Uma mesa redonda com dois tipos de madeira, uma ao centro, outra diferente, mais escura, contornando-o: que bonita!
Á sua volta seis cadeiras de veludo preto e tachas douradas: que bonitas!
No centro dela, um arranjo de flores naturais: que bonito!
Esta é a sensação de quem, pela primeira vez, os fica a conhecer.
Essa mesa é adornada, diariamente, para as duas principais refeições.
Mas há dias - muitos – em que ela é apenas merecedora de uma toalha, uma base, um prato, uns talheres, um copo e um guardanapo.
Nesses dias, quem aí se senta, não avista o que quer que seja de beleza, ou não estivessem à sua frente cinco lugares vazios de gente.
Certamente concordaremos, caro leitor, que o confronto com uma situação destas, provoca um aumento da solidão e de tristeza, pelo menos, na proporção daquele vazio.
É uma mesa sem vida como tantas outras, de tantas famílias, mundo afora.
Observe comigo, caro leitor, a pessoa – única – que está lá sentada.
Almoços e jantares: só para um.
E vejam como disfarça a tristeza que lhe vai na alma, inventando um diálogo, com quem, imaginariamente, está à sua direita e à sua esquerda.
Para ser mais fácil, ficcionemos este cenário, em conjunto: à direita daquela pessoa um homem e à sua esquerda uma mulher.
Pergunta a única pessoa sentada à da sua direita: Patati patatá?
Responde-lhe esta: Patatá patati.
Imiscui-se a da esquerda: Patatá patati patatá.
Profundos estes diálogos, não são, caro leitor?
Mas por que razão haveriam de o ser?
Se as refeições foram feitas para a família (e amigos), mas ninguém lá está.
Para quê outro tipo de “faladura”, se ninguém está a ouvir?
Afinal, a bandeira da sociedade actual é trabalhar, trabalhar, de preferência longe de casa.
E nunca esquecer a motivação a dar ao trabalhador: pelo menos, das seis e meia da manhã até às vinte horas, arregaçar as mangas, ir à luta, suar sangue.
Noutras ocasiões, o” até” fica para as onze horas, meia-noite, um dia, ou dois (…) depois:
- São sempre infindáveis os afazeres e imprescindível ser competitivo. Há que ser "os melhores dos melhores". Se possível, melhores ainda.
E não esquecer o hastear da sobredita bandeira: de segunda a sábado.
Pelo trabalho realizado:
- Parabéns aos Governos deste País.
- Parabéns aos Empregadores de Portugal.
A história que vos contei tem tudo a ver com países desenvolvidos como a Suécia, não acham?
País onde a duração média dos dias laborais tem diminuído ao longo do último século. Onde já se fez experiências de 6 horas diárias de trabalho e onde se pensa já na sua implementação.
(Os salários também são similiares, não são?)
Caro leitor, porventura, conhece algumas das conclusões desses estudos?
Tais como:
- Os funcionários sentirem-se mais saudáveis, mais calmos e atentos, o que levou à redução das baixas médicas. Verificou-se também uma melhoria nos cuidados com os pacientes.
Noutros países, a realidade é semelhante a esta.
E serão esses países sub-desenvolvidos, caro leitor?
Claro que não! Bem pelo contrário.
E se quiséssemos esta lista aumentaria, muito!
E nós?
Não podemos ignorar que a bandeira tem sempre de estar bem hasteada: trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar...
Por cá:
Vivam as famílias, cada vez com menos filhos!
Viva o aumento permanente do número de divórcios!
Aqui não! Nem, ironicamente, consigo dizer “Vivam”.
Outrossim, quanto lamento os que morreram, sem poderem usufruir do que descontaram - à custa de sangue, suor e lágrimas - para a sua reforma em tantos anos de bandeira hasteada.
Autora: Lurdes Mesquita Babo.
Autora: Lurdes Mesquita Babo.
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