Homenagem

- Senhores passageiros o Alfa Pendular, proveniente de Braga com destino a Lisboa está a dar entrada na linha 7 - anunciam na estação de Campanhã.
Os passageiros entram apressados, carregando malas e pastas.
Acondicionam os objectos transportados nos lugares apropriados.
É nesta ocasião que Maria se apercebe do casal à sua frente.
As respectivas expressões faciais denunciavam medo e preocupação.
Ela tinha olhos de lua cheia, vermelhos das lágrimas que jorravam.
Ele, sussurrando-lhe, dizia-lhe que se mantivesse calma.
Maria sentou-se na direcção oposta à marcha do comboio. Eles em frente a ela. Tirou da sua pasta o seu tablet. Fê-lo para disfarçar a sua atenção, a qual não descolava daquele par de jarras, antevendo a audição de uma conversa intrigante.
Ele começou, dizendo-lhe:
-Rosa, pára de chorar. 
Ela respondeu-lhe:
- Pensas ser fácil deixar os meus filhos para trás? Sem sequer uma despedida. Sinto-me horrenda.
E continuaram:
- Não tinhas outra opção, com um homem violento como aquele.
- Mas os meus filhos deviam ter vindo comigo. 
- Rosa, de Lisboa apanhamos o avião e vamos para...
- Ainda nem isso decidimos. O que também me assusta. 
- Rosa, pensa. Como é que ele vai descobrir que estamos aqui?
Nisto, do lugar anterior, um homem alto, fácies cor de telha, expressão de filme de terror, levanta-se, solta uma gargalhada estridentemente irónica e diz-lhes:
- Porque vos segui, seus fdp´s, traidores! 
Maria sente o bater do seu coração mais acelerado e a escorregar pelo assento.
Nesse momento, o homem-bicho saca de uma pistola, direcionando-a para Rosa e Manuel, dizendo-lhes:
Fim de linha.
De repente, Maria sente-se toda ensanguentada. Vê-se coberta de um vermelho-vermelhão.
Nem quer acreditar!  
Dois corpos jazem à sua frente.
Logo havia de se passar com ela, Presidente da Associação de Vítimas de Violência Doméstica. 



Autora: Lurdes Mesquita Babo.



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