O e-mail

Mãe e Pai,

Estou muito feliz! Vocês são os melhores pais do mundo. Obrigado por me terem dado este iPad, com dados móveis. Por isso, envio-vos este presente: o primeiro e-mail que com ele escrevo.  
Eu sei que saem sempre daqui muito tristes. Eu vejo lágrimas caírem dos vossos olhos, só que faço de conta que não percebo. 
Mãe, Pai, é verdade, é difícil viver num hospital. Tenho saudades vossas, de todos os meus brinquedos, da minha casinha e caminha! Mas eu sou forte como o Popeye! Não se preocupem.
Eu já sou grande. E não sou só eu que cá estou. Há muitos outros meninos e meninas. Uns estão piores e outros estão melhores que eu. Mas somos todos amigos. Fazemos todos companhia uns aos outros. E quando algum está pior, inventamos palhaçadas para o animar. 
Sabem porque quis o iPad? 
- Mais que tudo, tudo, tudo, para poder ligar-vos pelo Skype e me verem forte e feliz, quando não estão aqui por não poderem vir ou à noite, depois de se irem embora. 
Não vos quero ver mais chorar por minha causa. Senão, fico triste. E assim, fica mais difícil combater o bicho mau que entrou no meu corpo. Olhem, já me habituei às injecções (nem me doem), aos remédios, aos tubos e pensos. Afinal, eles são bons porque matam aquele bicho.
Não foste tu, Mãe, que me disseste que o que tem de ser, tem muita força? Eu gosto muito de ti e do Pai, por isso, faço o que me ensinam.
É possível pedir-vos só mais uma coisinha? Desculpem já estar a abusar. Mas será que podem continuar a trazer os livros em papel? É que gosto mais de ler as histórias, mexendo nas folhas e vendo as imagens. 
Pode ser?
Obrigado, queridos pais.

Beijinhos,
Luís.



Autora: Lurdes Mesquita Babo.

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