Curiosidade

Estava cansada. 
Exausta da montanha russa que era a sua vida.
Saudosa da estabilidade que tivera em tempos pretéritos.
Dias havia que desmentiam a velha máxima de que o coração não dói. Porque o dela doía-lhe. E como!
Em determinados momentos, o seu humor descia rapidamente do cume daquela montanha. Noutros subia, com uma velocidade tal que a deixava estonteante. 
A sua vida era uma verdadeira corrida de Fórmula 1. 
Dias havia como se estivesse numa corrida das vinte e quatro horas de Le Mans. 
Mas quando a montanha russa e as corridas cessavam, também ela estagnava. Ficava parada no tempo, sem consciência de saber para onde e como ir. Nem o seu cérebro lhe dava instruções sobre o que fazer. E ela tinha vontade de nada. Chamava-lhe a fase do “coma auto-induzido”. Por isso, ficava por casa. Nada fazendo. Ausente de pensamentos. Olhando, através da janela da sua sala, para o infinito.
Outros dias atravessava a porta principal da sua casa. Ora o fazia em modo automático, ora empurrada. E nesses dias percorria ruas da sua cidade à procura do nada. Andando só por andar. Só porque tinha de fazer alguma coisa.
Foi num destes dias, que se cruzou, numa dessas ruas, com uma pequena chave sem identificação. 
Ninguém, nesse momento, aí circulava.
Chamou-lhe a atenção o prédio que estava em frente ao local em que a encontrou. Tinha duas portas de entrada. Seria de lá?
Entendeu dever ir à esquadra da polícia. Disseram-lhe que ninguém ia procurar aquilo. 
Por isso, decidiu ficar com ela. 
Observou-a durante dias. 
Da sua cabeça não saía o prédio das duas portas. Era como se uma representasse o seu passado e outra o seu futuro.
Abriria aquela pequena chave a porta do seu futuro?
Quanta curiosidade em saber o que este lhe reservava!

Comentários

Mensagens populares