Padre Augusto


Chamava-se Padre Augusto. 
Era um nome próprio, resultado da escolha de seus pais, que significava sagrado.
Quando os paroquianos lhe perguntavam como o deviam chamar, ele respondia:
- Pode ser Augusto, Gusto ou Gostosão. Escolham, mas o último, ah esse é o meu preferido! - dizia-lhes. 
Os mais novos gargalhavam ruidosamente. 
Os mais velhos, nos inícios, conspiravam:
- Já não nos bastava o nome da terra bem Portuguesa, Colo do Pito, só nos faltava agora um padre mal acabado! Valha-nos Deus! 
Quando o Padre Gostosão rezava as missas, chegando o momento da leitura litúrgica, “Santo, Santo,...”, não é que lhe dava sempre um ataque de espirros?
E no final da missa desejava-lhes: Ide com DeusE nunca vos esqueçais que o Padre Gostosão está sempre disponível para vósGostosão à vossa inteira disposição!
A verdade é que com o tempo foram conhecendo-o melhor e todos o adoravam. Porque ele conseguia aliar a irreverência da sua juventude à inovação, sempre com respeito pela tradição que a sua fé lhe impunha. Levava os idosos a Fátima, os jovens a Roma, proporcionando-lhes novas experiências para delírio daqueles.  
E assim, os paroquianos, com o tempo, foram aceitando que Gostosão era realmente padre de vocação, mas também  humorista de profissão.
Nos convívios, chegava ofegante e sempre atrasado, mas com um sorriso colossal, ironizando:
- Já estais cá todos?
E estavam, alegremente esperando por ele, imaginando a dificuldade que seria gerir tantas missões num só coração.
Fazia questão de cumprimentar um por um.
Nunca perdia o sorriso e a disposição para a marotice.
Mal se sentava, um nanico de pão amassado voava para a cabeça de um conviva. E lá se via o atingido olhar para todos os lados, à procura do culpado. Mas nunca para o Padre Gostosão. Esse, obviamente, não o era. Logo aquele Santo! 


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