A mentira do tempo

Estou cansada…
Esgotei a minha paciência para, todos os dias, ver na imprensa casos e mais casos, de crianças abusadas sexualmente pelos pais, avós, amigos, vizinhos (...). 
Aqueles que delas deviam cuidar!
Urge fazer algo: diria uma alteração legislativa significativa! 
Agravem-se as penas, não permitindo a liberdade condicional, nem as saídas precárias dos agressores! Façam-se tratamentos psicoterapêuticos intensivos!
Criem-se, em todos os concelhos, grupos especializados com psicólogos e pedopsiquiatras que se dediquem em exclusivo a estas crianças!
Li que, quando se tornam adultos, o seu grau de agressividade e impulsividade aumenta.
Incrível, não? 
Uma vida – de criança a adulto – parecia tempo bastante para viver com tamanha dor.
Malogradamente, não.
Porque sobrevivem com:

A dor do porquê;
A dor de “o que é que fiz de errado?”;
A dor das ameaças dos agressores;
A dor da dúvida: “conto ou não conto?”;
A dor do “e se conto, vão acreditar em mim?”;
A dor do compromisso: “este é um segredo que vai morrer comigo.”;
A dor de falhar este compromisso.
A dor do medo do que se passou: “e se se repete?”;
A dor da revolta de inúmeras vezes terem de continuar a conviver ou a ver o agressor.
A dor das sequelas em futuras relações amorosas que, inevitavelmente, se estabelecem com o passar da idade.


É inegável que o tempo amacia estas dores. 
Mas, não se iludam!  
É uma ferida que nunca cicatriza, que não tem cura. 
São tantos e tantos os corações rasgados ad eternum!

E aquelas imagens, ainda que desfocadas pelo decorrer do tempo, insistem em passar no visor da mente de cada uma daquelas crianças, adolescentes ou adultos, em que se tornaram pela força do tempo. Passam repetidamente, como se “ the repeat mode” estivesse configurado.

Dizem que o tempo cura tudo...
Mas é mentira!
O tempo apenas ameniza. 

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