As reuniões de Condomínio

À porta do salão de condomínio, dois homens afiavam palavras duras. Naquele, apenas meia dúzia de pessoas. Sempre os mesmos. Afastavam todos os demais das Assembleias.
Naquele dia, Mário compareceu também, tentando lutar contra o poder instalado. Incredulamente, apercebeu-se, pelo teor do ódio destilado, que ponto de ordem da convocatória estaria prestes a ser votado:  uma “árvore”. Melhor um esguio tronco que, com a queda das suas folhas e galhos, sujava o logradouro do condomínio, atingindo e danificando bens de outros condóminos.
Mas aqueles, sem o serem, achavam-se donos e senhores do dito Condomínio. Servindo-se do “Administrador” de há muitos anos, que não era mudo, mas parecia. Um “homem” vazio de personalidade, uma verdadeira marioneta. Mas o que lhe interessava isso, quando todos os meses levava para casa os trocos da sua avença?!
Aqueles “donos e senhores” não entendiam como ousava aquele condómino querer cortar a “árvore” ou mudá-la de sítio, para cima dos espaços relvados, onde outras já estavam plantadas. 
Quanto atrevimento!
Aquela “árvore” jamais sairá dali, exclamavam eles.
Mesmo que o jardineiro do prédio afirmasse que, por ele, a dita “árvore” já lá não estava há muito. E contra ele falava, pois com ela lá até ganhava mais uns trocos.
Mário, ao ouvir toda aquela conversa, chegou a pensar que aquela só podia ser a famosa “árvore” das patacas ou, então, que nela se escondia algum tesouro.
Mas não!
Servia apenas para doutos seres iluminados imporem a sua vontade. Aqueles que estão nem aí para o que são, ou deviam ser, “boas relações de vizinhança”. Expressão que não faz parte do seu dicionário! Só conhecem palavras afiadas e a expressão “denúncia anónima”, atrás da qual escondem, afinal, a sua falta de coragem. Mário, fugiu dali: não só não eram bons vizinhos,  como também não eram pessoas do bem.

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