Reencontros
Anos!
Tantos que se passaram.
Sorri, chorei, brinquei, amei, guardei mágoa, relevei e
Vivi!
Raios, logo a Tia Alice.
Cismou!
Quando matuta em algo...
- Querido Francisquinho, o menino sabe o quanto a tia o adora. Jamais quereria o seu mal.
Mãe é Mãe!
Está-me a ouvir?
Se eu reencontrei a sua, o menino vai ter de a conhecer.
Meses!
Foram longos aqueles em que argumentei (e fugi):
- Tia, estou feliz assim. Não vamos mexer no que está bem, de acordo?
- Se o menino já tivesse filhos, nem colocava de lado tal hipótese. Agora têm filhos quase na idade de serem avós!Enfim, esta juventude!
Francisquinho, domingo vem cá almoçar.
Não me falte, ouviu?
À hora habitual.
Se a tia não tivesse tanto de mandona como de doce, bem que a mandava bugiar.
Ups! Se ela me ouve com esta linguagem.
Devo-lhe tudo, ou não fosse ela quem me criou.
Tem paciência, Francisco.
Aguenta-te.
Horas!
Que mais pareciam dias…
Na noite de sábado para domingo, não colei pestana.
Só voltas e mais voltas no carrossel da minha cama.
Na hora marcada, apareci.
Ela estava de costas.
Separava-nos o vidro que dividia as salas.
Aliás, pareceram-me trinta e cinco vidros. Igual ao peso da minha idade e da ausência dela.
Como me aproximaria daquela que apelidavam de minha Mãe?
Assim que me avistou, a Tia Alice fez-se ouvir:
- Francisquinho, já chegou? Venha cá conhecer a sua Mãe. Já passou demasiado tempo.
Senti-me nervoso, confesso.
A que diziam ser minha Mãe, não me largava o pescoço.
Encharcou-me de lágrimas e só pronunciou o verbo perdoar.
Mas não amoleceu o meu gélido coração, que desde criança guardava o segredo do abandono. Não conseguiarticular nenhuma palavra.
A Tia Alice só dizia:
- Está em choque, o menino.
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