INFINITO

Resta-me acreditar que é uma atordoada.
Não, tu não estás a praticar o verbo desamar!
Não o farias sem me contares. 
Ou fá-lo-ias?
Não!
Eu é que fiquei espaventada com tamanho boato. 
Só pode. 
Tu não estás dessiso.
Sim, eu sei que sempre foste lacónico na arte de falar, mas também sei que não és pérfido.
Engano meu?  
Vá lá, não me ocultes nada. 
E eu? 
Deixo-me emprenhar pelos ouvidos?
Dou alvíssaras aos que me vierem narrar que ainda conjugas o verbo amar?
Hum, não me parece que fosses aprovar.
Mas porque raios me apoquento, em exclusivo, com o teu sentimento?
E o meu eu, o meu sentir?
Onde estão eles? 
Porque caiem sempre em esquecimento?
É porque ponho o teu ser, o teu sentir sempre à minha frente.
Não quero crer.
Não quero, nem posso, nem devo.
Nós sempre primeiro. 
Eu sei, os alheios julgam-nos sem nos saber. 
Entoam verbos como presumir, calcular, prever.
Deitam cartas de adivinhação para decifrarem este enigma que une dois corações.
Ficam pasmos, empedernidos e odiosos na presença de um amor tão inócuo.
Vivem antecipando o final de algo tão valoroso que nunca terá fim.
Tu foste, és e serás para mim.
Eu fui, sou e serei para ti.
Os outros (e a sua verborreia), falando da vida alheia, não são mais que lobos seguindo na sua alcateia.

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