Porque não!
Bradava aos quatro ventos que nunca iria casar, nem ter filhos.
Todos lhe perguntavam o porquê de tamanha e irredutível decisão.
Maria, do alto da sabedoria que a experiência de vida de dez anos lhe conferia, respondia sempre o mesmo: porque não!
Incrível como era tão pequena e já mestre na arte de esconder o sentir.
Filha de pais separados por um divórcio passado a ferro.
Sempre em cadeira de orquestra assistindo aos confrontos dos pais.
Fossem eles onde fossem. As discussões aconteciam em qualquer lugar: à porta de casa, nas festas da escola, ao telefone… Por qualquer motivo: compras de bens essenciais, férias, fins-de-semana. E em qualquer altura: no casamento, no divórcio e até depois disso. Enfim, o que devia ser simples não era.
Se pudéssemos ler o coração de Maria, certamente está lá gravado: Se casar e ter filhos significa isto, porque haveria eu de os querer na minha vida?
Alguém ousará atirar-lhe a primeira pedra?
Só sei que dói profundamente a desesperança de Maria na continuação
da humanidade e na existência de respeito e amor.
Entristece-me quando penso em quantas Marias haverá mundo afora.
São as Marias produto da primazia de um amor-próprio levado tão ao extremo que auto se desrespeita.
É um amor-próprio que exclui todos os outros.
Aquele que bebe incessantemente da expressão: eu sou dono da razão!
É um amor vendado, espaçoso, que não zela, nem cuida.
É um amor pecado, um amor mágoa, um amor dor.
É um não amor que esvazia o coração de tantas Marias.
O que Maria não sabe (segredo que a sua juventude ainda não lhe confidenciou), é que a desesperança poderá transformar-se em esperança no futuro, se o seu coração se encher de amor perdão.
Por isso, e por ora, Maria diz não!
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