Para onde caminhas meu Portugal?


Deitada na espreguiçadeira da praia, avisto o paredão com largas centenas de metros de pedras sobrepostas. Foram colocadas, umas sobre as outras, pelas mãos de homens.
- Pedras, disse eu? 
- Não, são mais autênticos rochedos, tal é a sua dimensão.
Imagino-os, sob sol intenso, a fazê-lo. 
O suor lambendo-os desde os seus cabelos, percorrendo as suas fácies, até aos pés. Homens morenos, com aquela tez escura, de quem trabalha de sol a sol. 
Dormem todos num contentor, num chão vazio de colchões, alcatifado com cobertores. É um contentor com tripla funçãoonde se dorme, cozinha e come.
Por regra, é gente que vem do Norte, percorrendo mais de mil quilómetros a cada semana. Voltam ao domingo à noite e regressam à sexta-feiraNum, como noutro, são carrinhas apinhadas de homens, daquelas que tantas vezes ouvimos nas más notícias dos telejornais. Porque se despistaram, porque morreram “N” homens ou porque houve um que ficou tetraplégico.
Mas os homens da era da globalização já não regressam ao fim-de-semana á sua terra natal, vêm de três em três meses ou, com sorte, duas vezes por ano. “Compensam” a falta que fazem à família com o dinheiro que lhe entregam para poderem fazer face às despesas do dia-a-dia.
O que este País não pode dar a muitos dos seus cidadãos, trabalho realizado e pago de forma justa dá-o, forçosamente, depois sob forma de pensão de sobrevivência às viúvas que enviuvaram por sua causa. E, ainda, por prestações por morte aos filhos órfãos que pouco privaram do convívio com os seus pais.
Com a globalização as mulheres também emigram, pelo que, os filhos não são hoje só 
órfãos de pais como também de mães. E os homens também enviúvam.
Este é o mesmo País que coloca milhões em bancos, para compensar o que gente denominada de “VIP” - “ Vaidosos, Ignorantes e Pilhantes” - faz. Milhões que retiraram como se os que já tivessem não fossem suficientes. 
Shame on you!




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