Loucura.
Acordou com gritos travestidos de guinchos assombrados.
Olhou à sua volta e não reconheceu o espaço onde estava.
Ficou atónito: ao seu redor humanos relinchavam como cavalos, trepando - literalmente - paredes, desferindo murros e pontapés nas portas e janelas.
Questionava-se: raios, onde será que estou?
Ouviu o barulho de uma chave abrindo a fechadura de uma porta.
Alguém gritou:
- António Silva?
- Eu? – perguntou.
Chamaram-no novamente.
Levantou-se, ignorando o que o destino lhe havia preparado. Como um robot seguiu aquela voz.
Mais à frente, nova porta entreabriu-se: têm dez minutos!
De imediato, disparou:
- Onde estou? Que aconteceu?
Mulher e filho, entreolharam-se, interrogando-se como era possível não se lembrar.
- Estás num hospital psiquiátrico. - disse-lhe a mulher.
- E como vim cá parar? Só loucos à minha volta! E todos juntos na mesma sala: depressivos, esquizofrénicos...
- Tentaste suicidar-te. Não te recordas?
Não!
Mas recordava-se que na sala de OBS estivera junto com criminosos em saídas precárias.
- Não tivemos alternativa. Mas vais ficar bem.
A fechadura voltou a abrir-se. O auxiliar gritou: acabou o tempo!
Implorou que o tirassem de lá.
Os familiares choravam.
Mas regressou à loucura.
Cada vez que entrava alguém perguntava: Quando é que o médico vai falar comigo?
Restava-lhe esperar. Mas não conseguiu.
Ouviu e viu vidros a partir. Levantou-se. Atravessou o espaço vazio que eles geraram.
Bateu na primeira das portas. Não era a do “seu” médico. Quando o encontrou, pediu-lhe para assinar o termo de responsabilidade. Só queria ir.
E o médico perguntou-lhe:
- Achava que vinha para um Spa?
- Não! Mas isso não justifica uma sala comum mesclada de todo o tipo de doenças psiquiátricas. Isto - definitivamente - não é solução! Assinou o termo, apesar de todos os contras elencados pelo “seu” médico.
Saiu.
Ventava liberdade.
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