Amor para sempre.


Os dois, separados apenas por dois degraus de idade, professavam o auge da adolescência.
Mas, quando se avistaram, os seus Santos não bateram.
Ele embirrou com as calças dela: justas, tecido a reluzir como se já não lhe bastasse a cor azul eléctrica!
Ela antipatizou com ele por tamanha implicância.
E assim, aos pés de uma crítica de moda, sucumbiu o início de uma amizade. 
Era impossível não se verem: frequentavam os mesmos bancos de escola.
Quando o ar se deslocava entre os seus corpos, ele tinha sempre uma graça a propósito daquela peça de roupa. 
O que, a ela, não lhe caía nada em graça. E da sua boca logo esvoaçavam epítetos: ignorante, parvo, zureta, convencido!
Ele ouvia-os e sorria a bom sorrir, facto que a irritava solenemente. 
Ela confidenciava às amigas não o suportar; elas aconselhavam-na a desvalorizar.
Por ironia do destino almoçavam no mesmo restaurante; por decisão dela, em mesas bem distantes. 
Até um dia em que uma companheira de refeição chamou-lhe a atenção para o modo como ele lia o jornal. Ela atirou: pelo menos cultiva-se. Mas não, não era isso. Sugeriu-lhe que atentasse melhor. E finalmente ela viu: um buraco bem no meio do diário. 
Porquê? Para quê?
Ao que lhe confidenciaram: tudo só para a ver!
Nem pensar! Eles odiavam-se.
Que nada! “Amor” e “Ódio” o que são senão sinónimos!
Nesse instante ela descobriu que havia estrelas de dia, que ao almoço tinham-lhe servido borboletas e o que era uma arritmia.
Ele saiu do restaurante; ela foi atrás. O seu passo apressado levou a que se cruzassem. Ela atirou a novidade do jornal; ele sorriu. Conversaram. Gostaram tanto que repetiram nos dias que se seguiram, várias vezes por dia.
Sim, o amor está em qualquer lugar, nasce em qualquer contexto.
E dura! 
Até hoje.   


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