Compulsão

Atirou os dados e sorriu. A sorte exibiu-lhe o três. Intrigou-o que aquela figura geométrica, com aparência de quadrado, soubesse tanto da sua vida. 
Era inegável o três ser o seu número de eleição. Aquele em que colocava sempre uma cruz, fosse nos números ou nas estrelas do Euromilhões. Lotaria que só adquiria se tivesse tal terminação. Três euros, o preço da raspadinha em que apostava. 
Pensando bem, nunca tinha ganho nada de substancial. Talvez devesse trocar o três por outro número e quiçá o destino se alterasse. Mudança de hábitos, mudança de sorte?! Decidiu-se então por lançar os dados mais uma vez, mas o três deu de novo à costa. Por mais que quisesse, não tinha como o ignorar. A sua persistência em se mostrar só podia ser um sinal. Não o rejeitaria. Este número tinha demasiado significado na sua vida:
- Três o número de vezes que tinha casado. Três o seu número de filhos. Três eram os irmãos. Três os empregos por onde tinha passado. Três, as primeiras cartas (flop), do seu jogo preferido de casino (póquer), aquele onde mais (se) perdia. 
Ainda que pouco ou nada tivesse ganho em tantas apostas que tinha feito, insistiria em apostar no seu número preferido. Um dia, certamente, daria frutos. Não, não era fixação por ele, não podia era ignorar tantos sinais. Estúpido seria se o fizesse! Decididamente não ia ligar a vozes de burro. Vestiu o casaco, pegou nas chaves do automóvel e rumou, já em modo piloto automático, para o casino da cidade. 
- Não posso entrar porquê?- perguntou surpreendido ao segurança do casino.
- O Senhor bem sabe que está na lista negra dos jogadores. Esqueceu-se?
- Na lista negra? Eu, não! Tenho mesmo é de jogar no três hoje, acredite. Por favor.
- Senhor, não complique.

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