Encontro inesperado


Primeiro um barulho imenso, seguido de um silêncio sepulcral. Logo a seguir o choro de uma criança de braço dado com um “tenho medo”.
- Como te chamas? - perguntou-lhe.
(Ela que envergava fato clássico, sapatos de tacão e pasta na mão).
- Rui.- respondeu-lhe soluçando.
- Não fiques assim, querido. Daqui a pouco já sairemos. 
(O ideal era meterem conversa para o acalmar). 
- Que idades tens?- perguntou-lhe.
(Ele que vestia fato clássico, gravata, sapatos de verniz e pasta na mão).
- Tenho nove anos.
- Estás muito grande! - disse-lhe enquanto pressionava firmemente o botão de alarme. 
- Vives aqui? - continuou.
- Sim.
- E vocês?
- Nós também.
- Mas eu nunca vos vi. 
- É natural, costumamos chegar tarde.- respondeu-lhe ela.
- Porque têm os dois pastas?
- Porque estivemos a trabalhar.
- E o vosso trabalho é com pastas?
- Sim, é. Desculpa, com a confusão nem nos apresentamos. Eu chamo-me Laura e sou Advogada. Este é o meu marido António e é Engenheiro.
- Eu não quero ser Advogado quando for grande!
- Então porquê?- perguntou-lhe António.
- Porque trabalha-se muito!
Eles sorriram. E António questionou-o:
- Como sabes?
- É que o meu pai também é Advogado e nunca está em casa. Nunca pode brincar comigo. Eu pergunto-lhe porquê e ele diz-me sempre que tem de trabalhar. E um Engenheiro? O que faz?
- No meu caso trabalho com os computadores.
- Ah, isso deve ser bué de fixe!
- Eu gosto. Esperem! Estão ouvir?
Alguém da assistência técnica do elevador perguntava se estavam bem. 
- Estejam calmos, resolvemos isto num minuto.
- Até nos portamos muito bem, não foi Rui?- disse Laura. 
Ele acenou afirmativamente com a cabeça. 
A porta do elevador abriu-se. 
No exterior a mãe aguardava-o ansiosa. Estendeu-lhe os braços. Na sua expressão facial tinha gravado um já passou. 
Rui recuperou então a segurança nos braços do mãe.

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