Mentira

- Vens, Maria?- perguntou-lhe Sofia.
- Estás parva! Vou agora... Era só o que me faltava.
- Porquê? Não te entendo!
- Porque só te conheço a ti. Esta é uma boa razão, não?
- Não, Maria. A ideia é que me acompanhes e convivas. O que te impede de o fazeres?
- Fechei para obras, Sofia!
- Erguestes muros ao conhecimento de gente nova, foi?
- Exato!
- Sofia, poupa-me. Deixa-te disso. Há todo um mundo de novidades à tua espera. E tu precisas.
- Nem penses.
- Claro que penso. Está combinado. Vais. Sábado. Às vinte horas. Venho-te buscar.
Sofia, não teve como contra-argumentar. E ainda bem! 
Integrou-se espetacularmente no jantar ou não fosse ela um ser eminentemente social. E divertiu-se imenso no bar ou não fosse uma apaixonada pela conversa e pela dança. 
No dia seguinte, a primeira coisa que Maria fez, foi enviar uma sms de agradecimento a Sofia. Agradeceu-lhe o convite e a oportunidade que teve de conhecer Afonso. Confidenciou-lhe que o adorara. Sofia aconselhou-a a ir devagar. A partir dessa ocasião, Maria e Afonso passaram a encontrar-se todos ao dias. Sofia deixou-se navegar na gentileza e no crer que o amor era possível junto de Afonso. Foram dias e dias muito felizes. Hoje em casa dela; amanhã num restaurante da cidade; depois num bar de hotel com  dormida incluída.  
Até que, num fim-de-semana, Afonso convidou-a para o passar em sua casa. Era a primeira vez. Maria sentia-se como uma criança no seu primeiro dia na escola. Nesse sábado, entraram fogosos, apartamento adentro. 
Mas a Maria, logo lhe pareceu ouvir:
 - Querido, estás aqui?
Maria olhou para Afonso e questionou-o.
Ele confessou: era a sua noiva (há dez anos); não devia estar ali, supostamente tinha um congresso em Espanha, o fim-de-semana todo. 
Maria vestiu-se rapidamente. Tudo o que queria era navegar dali para fora e voltar a erguer a guarda. Voltaria a fechar para obras.

Comentários

Mensagens populares