Com esta não contava eu, não.

Não queria acreditar no que estava a ver: um vírus a competir com a tecnologia, dando-lhe um enorme baile. 
E eu que pensei eu já ter visto tudo - incluso o progresso a invadir o mundo dos afectos, neles fazendo gigante mossa. 
Constato que as pessoas já não apreciam os prazeres de um jantar, preferindo dedicar-se a conversar com os seus telemóveis. Reparo que qualquer um tem centenas ou milhares de amigos virtuais e poucos ou nenhuns reais. 
Mas este novo microrganismo - que invade os corpos sem pedir licença - também se apossa da alma e do coração- com estes não querendo nada, não. 
É a favor do isolamento social- porque convictamente contra o toque entre humanos.
Promove o afastamento familiar - pois não permite partilha de ternura sequer com doente hospitalar.
Nada quer com a educação: porque tem força capaz de trancar a sete chaves escolas e universidades. 
Opõe-se ao progresso económico e à globalização- quer-nos todos isolados, bem fechados, separados.
É adepto da xenofobia, da amnistia, da agorafobia e da antropofobia.
Mas, por estranho que pareça, é democrata porque contra a discriminação: envolvendo-se com todos por igual, não escolhendo raça, credo, sexo ou idade. 
Com esta não contava eu, não.

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