Síndrome do ninho vazio

  

 

Segurei por longos minutos aquele celular na mão. Incrédula! Juntei letra a letra e tentei decifrar o indecifrável. Confessei-me: impreparada! Bati forte no lugar do coração: tanto que o impregnei da cor purpura. Bradei aos céus. Concederam-me um mês! Um mês apenas para cortar o cordão umbilical com mais de vinte anos! 

 

Perdi-me do meu papel principal. Transformei-me. Eu: vulnerável; eu: dispensável; eu: atónita; eu: vazia. Como se reorientam prioridades de décadas em trinta dias? Que missão impossível é esta que me deram? Registo que já não vens dormir a casa; já não vens comer a casa; já não partilhamos o lar. Como vou ser agora mulher amputada de mãe?

 

Misturei, amassei, pensamentos e emoções, na busca da transição. A casa parece-me gigante; o silêncio não é de ouro – é puro e duro. Bati de frente com o caminho da depressão. Invertem-se os papéis e tu consolas-me. Dás-me força. Incutes naturalidade à partida. Então, esforço-me – ponho de lado a solidão, a tristeza e a melancolia. Ando em passos pequenos na corda suspensa - algures entre o estar e o respeitar. Encontro à minha direita o teu pai; ao centro: Eu; e à minha esquerda: a amizade. Colunas de segurança a que deito a mão no processo da minha reinvenção.

 

O telemóvel que me trouxe a notícia é o mesmo que agora, diariamente, me chama. Sempre Tu, do outro lado da linha. Todos os dias! Não são os sons das palavras que me chegam, mas o barulho da paz e ventos de uma relação forte e duradoura.   

 

Recomeço. Renasço. Reencontro-me. Aprendo. Compreendo que continuo a ser tua mãe. E tu continuas a ser minha filha. Afinal a minha identidade não se resumia à maternidade. No final é o mesmo amor que nos une.

 

 

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