Sobrando espaço para a dor

         Sentou-se no banco e sobejava espaço para a dor. Ao seu lado: a tormenta do vazio. Olhou para cima e o firmamento, ao contrário, estava mais preenchido. Estendeu a mão - mas só encontrou o frio da madeira. 

        Observou o banco do jardim: e não, não era o mesmo! Nada era igual! O jardim - porque lhe faltava a flor mais bonita; as pessoas - porque não estavam as habituais.

     Ali sentado, ele treinava a arte da solidão, iniciando o percurso da sua aprendizagem (mestre só era no ofício do amor). 


Ali sentado, aprendia a conviver com o desespero da separação de corpos. Era tanto! Tamanho era o que lhe doía. Era um sufoco: da imensidão do mar!  Falhava-lhe o abraço; a proximidade dos corpos; o olhar duplo, unido num só; o toque; a companhia.  


Por momentos: endoideceu. Sim, porque a dor endoidece! A passagem da presença terrena para o desconhecido é feita de crua dor.


Desatou a falar: sozinho. Talvez a sua voz fosse audível o suficiente para alcançar a alma dela. Quiçá ela o ouvisse: - e tanto era o que tinha para lhe dizer. Poucas vezes os ponteiros do relógio tinham girado, mas ele já descobrira que a morte não mata o amor.

 

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