Coração de Mãe.

Cada vez que a porta da rua se fecha é como se me embatesse no coração com tamanha força e, a cada saída, o perfurasse mais e mais profundamente.

Mas não é o coração que me dói (até porque é isso que a medicina diz dele).

Dói-me é – profundamente – a alma.

E é uma dor tal que, por vezes, me enlouquece e me confunde. Por isso, ocasiões há em que não sei o que fazer para com lidar com ela.

Depois, inexplicavelmente, seguem-se dias em que me encho de força e coragem e digo – para mim mesmo –  que vou conseguir sobreviver e reescrever a minha história a partir da tua saída, (ou antes, a partir de agora), que vou ser capaz de sair do buraco negro e vazio em que a minha vida se transformou.

Outros dias acho que não.

Não consigo ver assim as coisas e faço tudo errado.

E dou por mim a pensar:

- Se não o consegui até agora então nunca o conseguirei. Pois não foi este o projecto da minha já longa vida, não foi para isto que a vivenciei.

Atirem-me todos pedras.

Julguem-me todos.  

Digam-me -  em uníssono - que estou errada.

Que sou má, insensível, ingrata; mas digam também que sou Mãe.

Sempre que sais por aquela porta vejo-te cheia de sonhos, esperançada numa vida melhor.

E eu devia ficar feliz.

E eu fico e ... não fico.

Fico porque tenho um enorme orgulho em ti, na pessoa que és, como ser humano, amiga, humilde, generosa, corajosa, estudiosa, trabalhadora (...)  

Mas – enquanto isso – e a cada dia que passa sinto que te vou perdendo. E penso que nos vamos perder uma da outra. Logo nós que fomos sempre tão umbilicais.

E não há dor maior para uma Mãe - que a que a faz chorar e sufocar - do que sentir o coração esvaziar.

Mas perder-nos assim, para além de inimaginável, é a dor mor que uma Mãe pode sofrer em Vida.

Tem dias que acho que o nosso amor escorre, desliza chão afora, como quem abre uma torneira e a água se perde nas suas mãos.

Já todos se foram embora.

Foram às suas vidas.

Ficou o vazio na casa e no meu coração.

Mas hoje – não me perguntes porquê – não vejo, nem sinto as coisas assim tão negras.

Amanhã não sei.

Sei apenas que tens o direito a seguir o teu caminho. Tens o direito às tuas escolhas. E eu como Mãe sei que tenho de o aceitar e respeitar. Vou trabalhar para isso, para a acalmia do meu coração. Porque se o acalmar sei que o teu também sossegará.

Tenho de o fazer por ti, por mim, por todos nós.

Tu mereces.

És a melhor filha do mundo.

Perdoa as saudades.

Texto de autoria de Lurdes Mesquita Babo