Homenagem aos animais

Não o encontrei. 
Esperei por ele. 
Raios! 
Sempre desobediente.
Tomei a decisão: procurei-o por todo o lado. Mesmo: em todos os locais. Nada: nem em casa  dos vizinhos. O meu eu estava desesperado.
Alguém ao fundo da rua – agarrado a uma trela. Luzes de esperança cintilaram na minha cabeça: é ele, de certeza que é! Não: era um vizinho com o seu cão.
Que desespero – ele com o animal dele e eu? Sem saber nada do meu. 
Onde se meteu o raio do bicho, caro leitor? Não o terá visto andando e vagueando por aí?
Sabe, se eu não o tivesse em tão boa conta no meu coração, não lhe manifestava tamanha preocupação. 
O vosso coração também sofre de taquicardia por animais? De certeza que sim. Sinto-o bem dentro do meu peito. É como se fossemos gémeos, trigémeos, quadrigémeos (...), todos – neste agora – ligados pelo sentimento da perda de um animal que fugiu: que a bem da verdade, nem sabemos tratar-se de uma verdadeira perda. Sim, porque ainda não perdemos a esperança do seu reencontro.
Será que ele não vai voltar? Não quero acreditar que não o encontre ou que não haja alguém que se cruze com ele por aí. É que se tal acontecer, para além da dor – intemporal e incurável, não serei o único a sofrer.
Vozes de burro dizem por aíai, coisa e tal, é só um animal. Não, não é só um animal, não! Tratam-nos bem melhor que os nossos demais, não acha?
Respeitam-nos, se estamos aborrecidos. 
Estamos tristes?Eles partilham connosco essa tristeza. 
Estamos cansados?Os fiéis companheiros ali ficam, sempre ao nosso lado. 
Bora brincar? Ó, se temos parceiro para tal. 
E aquele olhar que nos dirigem? São flechas de amor, umas atrás de outras, dirigidas ao nosso coração: e a nossa paixão aumenta. 
Já ouviu falar em sombra?  No sentido de alguém que acompanha outra pessoa constantemente? É assim o meu cão
Choro por não saber dele. E por dele não ter notíciasImagino, caro leitor, que neste momento, me espelhe: que também não consiga segurar as lágrimasPorque quem ama os animais, sabe bem o que me vai na alma e não consegue ficar indiferente.
Um minuto: o meu telefone está a tocar, vou atendê-lo e já volto. 
Foi encontrado morto, por atropelamento. Desculpe, mas não consigo falar. Acabaram de me roubar a voz e a alma. Estou afónico e cheio de um vazio.

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