Memórias de uma filha (pelos olhos da mãe)

Recordo-me de ti no meu abrigo, local onde deste uma dimensão diferente ao meu sorriso. Ofereci-te o meu corpo como anfitrião para tu, dia-a-dia, fazeres a tua adaptação. O meu sonhar cresceu ao ritmo do teu navegar: uma hora tinhas cabelo liso, outra encaracolado; num momento tinhas olhos claros, noutro castanhos. És tu a razão da elevação da minha imaginação!  
Recordo-me de ti no dia que descobriste o mundo: linda, perfeita, de longe bem melhor que a encomenda. Fizeste a minha estrutura abanar: seria eu capaz de ti cuidar? Dúvida que, de imediato, me esclareceste. Vieste envolta em paz e sossego. Ensinaste-me que amar também se pode conjugar no verbo idolatrar.
Recordo-me dos teus primeiros passos, sorriso e abraço que me ensinaram que a felicidade não tem limites, não! Lembro-me do dobrar da tua risada, do teu caminhar inseguro, do teu beijo molhado. Cada novidade que experienciavas, eram para mim, armas novas na arte de amar. 
Recordo-me de saíres dos meus braços para os das cuidadoras. Este foi o único momento em que, verdadeiramente, me partiste o coração. Tu foste a razão para eu amaldiçoar o mundo, que me obrigou a entregar-te no lugar de comigo ficares.
Recordo-me de ti investida do teu primeiro uniforme escolar, da minha preocupação com o teu chorar, para uns dias logo depois me tranquilizares. Lembro a enorme facilidade com que fizeste amizades.
Depois de tanto recordar, olho-te hoje com tamanha admiração pelo ser em que te tornaste. Inundas o universo com meiguice, ternura e afecto. Enches-me de orgulho na minha tarefa de Mãe. Sorte a minha por te ter como filha. Naquela hora, daquele dia, o cosmos conspirou a meu favor. Por mais que agradeça, a gratidão que expresso nunca será a suficiente. 
Adoro-te filha!

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