O Julgamento
Surpreendeu-se com o aspecto envelhecido do edifício e com a sujidade das ruas envolventes. Nada que lhe retirasse o seu entusiasmo ou não fosse o primeiro dia do seu estágio.
Parou em frente à entrada daquele prédio secular.
Respirou fundo.
Sacudiu-se como querendo afastar os maus espíritos.
Inspirou profundamente e, com vigor, colocou o seu tacão no primeiro degrau. A cada passo que dava, dizia para si: aqui vou ser feliz, aqui vou realizar-me profissionalmente.
Sentia-se importante; afinal o seu percurso tinha sido, até aí, longo e duro.
Investida no seu novo papel de advogada-estagiária, abriu firmemente a porta que tinha a inscrição de “secretaria” aposta. Orgulhosamente, apresentou-se. Perguntou por julgamentos para assistir. Havia no piso de cima. Ansiosa para lá se dirigiu. Parecia uma criança no seu primeiro dia de escola. Sorvia toda e qualquer novidade: a sala de audiências, a disposição dos lugares, as becas, as togas, os rituais (...). Melhor do que havia sonhado.
Silêncio!
Os julgamentos iam começar.
A curiosidade dela seguia em crescendo.
Espantou-se com a juventude do primeiro arguido.
O Juiz-Presidente leu a acusação: roubara vários produtos num supermercado. Foi-lhe explicado que tinha de responder com verdade às perguntas sobre a sua identidade e antecedentes. Quanto aos factos que lhe eram imputados podia remeter-se ao silêncio.
O arguido optou por falar. E disse serem os factos verdadeiros. Contudo, o roubo por si perpetrado tinha obedecido a ordens de terceiros.
O Tribunal quis saber mais.
E o arguido explicou: tinha assaltado aquele supermercado no cumprimento de directrizes de extra-terrestes. E a ordens destes o arguido não desobedecia. Com ET´s não se brinca! Logo eles que estavam sempre a aparecer-lhe!
Na assistência ouviram-se risos.
Na sala, uma decisão de suspender o julgamento para que o arguido fosse submetido a avaliação psiquiátrica.
Que belo início, pensou ela.
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