Relacionamentos

  

Um sofá de três lugares. De frente, outro, solitário. Ambos de cor clara. Quão luminosa era aquela sala! Seria para iluminar quem procurava este tipo de serviços? 

Maria e António tinham recorrido à Dra. Ana Santos como último recurso. Estavam no ponto máximo de negatividade da sua relação. Relacionavam-se com base em gritos ou críticas. A psicóloga chamava-lhe a fase do boomerang da culpa. Diálogo, empatia e afeto tinham-se convertido em palavras esquecidas. Por isso, Maria arrastara António para a terapia conjugal. Queixava-se de falta de intimidade e de enamoramento. Ele achava aqueles queixumes ridículos e a relação normal - pois se estavam casados há vinte anos! Maria, não concordava. Reclamava de já não terem os mesmos sonhos. Sofria com a vivência dele em exclusivo para o trabalho. Não se conformava com a ausência de partilha das tarefas domésticas. 

Na primeira sessão, a terapeuta solicitou-lhes que se comprometessem seriamente - só assim conseguiriam derrubar o muro que os dividia. Nas sessões seguintes levaram trabalhos para casa. Aprenderam a não proferir vocábulos que ferissem o outro. Esse trabalho e a terapia mostraram a António o quanto, ainda, amava Maria. Então começou a levar, cada vez mais a sério, a terapia conjugal. Encetou também pô-la em prática: principiou por vir mais cedo do trabalho, deixou de trabalhar aos fins de semana e voltou a convidar Maria para sair. Logo a intimidade entre eles começou a renascer. António apenas resistia a ajudar em casa, facto que persistia no desagrado de Maria. Contudo, um dia, lá se ofereceu para lavar a loiça. Novo dia e, para gáudio de Maria, pediu-lhe para lhe explicar como se colocava a roupa para lavar. Dias depois, uma conhecida marca de eletrodomésticos entregou lá em casa todos os seus modelos topo de gama. Milagre da Sant’Ana, pensou Maria. 

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