Ai tristeza, tristeza.

 Pediu uma faca: deram—lhe um facalhão. Mas nenhum daqueles lhe servia. Talvez um punhal?  Quiçá uma espada? Uma navalha? Um machado?  O que ela queria mesmo era algo capaz de perfurar bem fundo. Um objeto que fosse o mais cortante, capaz de lhe arrancar das profundezas da sua alma a tristeza que lá se tinha instalado, de camarote, e que se recusava a sair. Sentia-se impotente para lhe dar ordens de expulsão – pudera, a maldita, apoderara-se também das suas força e vontade!

Depois pensou: que afinal o que sentia, bem no seu âmago, era uma taal negritude: como se um incêndio se tivesse dado e só restasse fumo e escombros. Por isso, de que lhe serviria o objeto mais cortante? Os bombeiros também de nada lhe serviriam - afinal o incêndio já se tinha dado! 

Com que raios curaria ela aquele permanente estado de alma? - questionava-se. Já tentara o autocídio – o que se tinha revelado um verdadeiro fracasso pois não tinha conseguido levar tal tarefa até ao fim.  

Aquele desânimo era um ladrão: roubara-lhe a persistência e a coragem. E era gigante – dominava-a completamente. Era como se fosse um colossal polvo que se enrolava à volta dela, com os seus oito tentáculos, não mais a largando. Oh, batalha inglória! Um dia ela libertava-se de um deles, mas os outros atracavam-se a ela com mais e maior valentia. Sentia-se cansada. Não! -sentia-se extenuada. Não só porque aquela melancolia não a largava, mas porque ousava colar-se se à sua face. O que tens? Estás cá com uma cara!

Milhares de vezes que ela ouvia tais questões e sempre vazia de respostas para elas. Tomara ela saber! Descobrir qual era a saída deste labirinto onde estava perdida, mas que ainda não tinha descoberto. Ainda. 

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