Pai e Filho

 Pais e filhos.

Grandes e pequenos.

Géneros masculino e feminino. Todos juntos à molhada - aquilo a que se podia chamar de uma equipa bem mesclada.

Era um jogo diferente - como são sempre os jogos daquele desporto. 

João, 10 anos de idade, entrou radiante no estádio. Uma mão abraçada à do pai; outra, firme no saco do equipamento. Em ritmo já de aquecimento dirigiram-se aos balneários e vestiram-se para a ocasião. 

O pai, atleta de renome, estava também entusiasmado com o acontecimento. João imitava-o em todos os seus passos. André, chegada a ocasião de calçar as chuteiras, ofereceu-lhe ajuda. O filho respondeu-lhe com um “obrigada Pai, deixar estar, eu consigo” - e, de facto, conseguiu. 

Alinharam todos à entrada do relvado numa perpendicular que mais parecia uma verdadeira escadaria. João envergava o equipamento que André lhe tinha oferecido. Nas costas, o nome dele gravado e uma dedicatória para o melhor filho do mundo. O pai, preparando-se para entrar em campo, saltava em modo de estimulação. Mão cimentada à do filho, sacudia-o com força, dizendo-lhe: 

- Salta, aquece, olha que este jogo é para ganhar, temos de dar tudo por tudo! Tu sabes que o pai detesta perder! 

Dizem por aí que os homens são distraídos - expressão que pode ter o seu quê de machismo mas tem, também, algum fundo de verdade. André não percebera que para o filho o jogo já estava ganho. O mundo de João resumia-se à admiração que tinha pelo pai e ao deleite de com ele compartilhar momentos como aqueles. Mas os seus mundos encontravam-se em estadios completamente diferentes.  

A bola foi colocada no centro do gramado. João, orgulhosamente, deu o pontapé de partida.

No desporto, como na vida, a felicidade devia ser sempre uma operação aritmética de divisão – sempre resolvida em primeiro lugar. 

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