O POEMA QUE O SUICÍDIO MATOU.

A minha primeira partilha tem precisamente a ver com tudo o que na minha primeira publicação referi, mas também é uma homenagem a alguém muito próximo que partiu há anos - (se bem que para mim parece que foi apenas ontem) - por decisão própria.
Decisão difícil esta para quem parte, mas também para quem fica.

É uma dor que julgamos que passa com os anos - mas não. Nem passa, nem ameniza, pelo contrário, está sempre presente. É um rasgão eterno na nossa alma.  Mas sim, temos de aprender a viver com ela – mas é difícil.   

O POEMA QUE O SUICÍDIO MATOU.

Tento amenizar a dor intensa que ao longo dos anos persiste. Dor esta causada pelo “mergulho” (no sentido literal da palavra), que o fez “sair “do outro lado da margem do rio, este em forma de céu; onde um dia nos iremos, por certo, encontrar. Pensei fazer um poema em sua homenagem. Mas como vou eu fazer versos, rimas que rimem com suicídio? E, ainda que o conseguisse fazer, o resultado seria um género literário, em forma de poema-dramático. E quem, hoje em dia, quer vivenciar mais dramas, ainda que em forma de poema? Então prefiro dar asas à minha imaginação, debitando aqui o meu pensamento, sobre como, imagino, irá ser o momento do nosso reencontro. Vamos correr, incansavelmente, um na direção do outro.Vamos olhar-nos, depois abraçar-nos e beijar-nos (tanto), que será riscada do dicionário (para sempre), a palavra saudade.Vamos rir-nos imenso com as suas anedotas. E eu vou recordar, com uma alegria desmedida, o seu sentido de humor. Vamos ficar sérios, ao falar do nosso clube, zangarmo-nos com os nossos Presidente e treinador discordando, como outrora, das suas opções.Vamos lembrar a nossa ida a Barcelona, mantendo no esquecimento as bolas que entraram nas nossas redes, mas aquela mariscada na marina (My God!) jamais será retirada do nosso palato. Nunca podia ter escolhido o mar. Adorava-o. Aí o “mergulho” seria uma espécie de traição, igual à que eu senti; já perdoei, mas não esqueci. Não esqueci? Que ridículo. Que ridícula eu sou. Já perdoei. Mas quem sou eu para perdoar?!! O que há a perdoar? Nada. Saiba que eu hoje sei que “mergulhar” era um direito seu. Como ajudar era uma obrigação minha. Não falhou o “mergulho”. Mas falhou, redondamente, a ajuda. Mea culpa. Mea culpa. Mea culpa.


Texto da autoria de
 Lurdes Mesquita Babo

Comentários

  1. Respostas
    1. Este texto tocou-me directamente. Muito trágico mas muito bem escrito e pensado. O suicídio! Quem o comete e quem não foi capaz de ajudar. Beijinhos <3

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  2. às vezes não queremos ser ajudados bjinhos <3

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    1. O nosso débil estado acha que não quer ser ajudado.
      Quem passa por uma situação destacas sabe disso. Força.

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