Diálogo com a Solidão



Estava eu....
Cansada dos dias e dias sempre acompanhada  da solidão.
Cansada também  a ela -  do exclusivo - da minha companhia.
Já nem nós podíamos ver – tal era o enorme desespero de sermos o enlace uma da outra.
Vai-te embora – grito-lhe eu.
Põe-te andar – responde-me ela.
Mas vou para onde? – pergunto-lhe.
E a solidão respondeu-me:  - Se já nem eu te sirvo de companhia, só tens uma viagem a encetar. Mais tarde ou mais cedo vais ter mesmo de a fazer, está marcada, não sabes é para quando. Por isso, ainda podes ter algum poder decisório, marca-a tu e ao mesmo tempo vês-te livre de mim.
Acrescentou: - Olha, eu não chorarei a tua partida, afinal eu sou a SOLIDÃO; mas também não estou a ver quem o vá fazer.
Óbvio que argumentei – não me ia deixar dar assim por vencida.
Mas eu ajudei A...não deixei cair B... fiz tudo por C...
Com a sua  frieza típica a solidão disse-me: E estão eles  onde agora?
Olha à tua volta, vês alguém?
De facto, não via.
E – de facto – eu  estava rodeado do vazio de  ninguém.
Pega no calendário: ordenou-me a Solidão. Faz-te gente.
E eu peguei.
Estou agora com ele à minha frente.
Serei – pelo menos – uma vez gente, Solidão?
Ainda tenho forças para te combater.





Texto de autoria de Lurdes Mesquita Babo.


Enviado do meu iPhone

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