PODIA SER EM PORTUGAL, MAS NÃO, ERA PURA COINCIDÊNCIA...
Naquele dia, na cidade de Lismá,
num recôndito País, apelidado de Lismau, bem longínquo do nosso, João
deparou-se com um velho Teatro.
Era também um magnífico edifício
secular.
Mas, não foi só isso, que lhe
amarou a atenção.
Outrossim o velho cartaz com
luzes em néon que anunciava estar em cena o espectáculo de revista “OS ESPIÕES RECRUTADORES DE BRILHANTES
CÉREBROS HUMANOS - os ERBCH´s”.
João ficou com a curiosidade deveras
remexida só de pensar no que ali poderia visualizar.
Quando decidiu ir para Lismá
não o fez à toa, pois informou-se sobre a cidade e respectivo País.
João era bastante cuidadoso na
programação das suas viagens.
Sabia tratar-se dum País com
configuração geométrica rectangular. Como também sabia que alguns dos poderosos
habitantes de Lismá defendiam que a cidade tinha a configuração oval por
acharem que se assemelhava à configuração de um cérebro humano - so special - reunindo, em si mesmo, o
cúmulo da inteligência. Digamos, um estilo de cérebro TOP, VIP, como aqueles que
se encontravam nos supra-referidos poderosos habitantes de Lismá.
A hora do início do teatro de
revista aproximava-se a largos passos e João transbordava de entusiasmo. Sentia
- por si acima - um formigueiro de curiosidade que aumentava ao ritmo das
batidas do seu coração.
Faltavam – precisamente – quinze minutos.
Depois de ter adquirido o
respectivo ingresso, instalou o seu esqueleto no
desconfortável e antigo assento
daquele teatro.
Finalmente, começou. Era tudo o
que João desejava naquele agora.
O espetáculo começa com uma
Assembleia Geral dos administradores e sócios de uma sociedade, cuja designação
comercial dava pelo nome de “ERBCH ao
serviço exclusivo e único de Lismá, S.A.”.
Pediu a palavra o respectivo
Presidente do Conselho de Administração, o qual - por mera coincidência do destino - era
um Ilustre Deputado do Parlamento de Lismau, Antonino da Costa, que no
uso da mesma disse:
- Temos um plano infalível na ordem de trabalhos e que irá a votação esta
noite. Este plano levará, ainda mais longe, a nossa querida cidade Lismá.
A Assembleia ouvia-o com pleno
entusiasmo e enorme adoração.
E eis que, Antonino da Costa,
começa a explicar e a apresentar o plano aos presentes.
Este é o ERBCH Centro - chama-se
José; e este é ERBCH Norte - chama-se Luís, por último, este é ERBCH Sul e chama-se
Pedro.
Todos eles terão uma missão de
espionagem, na área do Direito, nas Faculdades do Norte, Centro e Sul de Lismau.
Estão inscritos como alunos, não
podem faltar a uma única aula, porque a missão exclusiva deles é trazer os
grandes cérebros para Lismá.
E desata - esbaforido de
entusiasmo - a perguntar:
- É ou não é José? É ou não é
Luís? É ou não é Pedro?
E todos eles respondem - em
uníssono - afirmativamente:
- Sim, Sr. Presidente, Deputado e futuro Presidente do Governo deste
País.
E continuava:
- Tomem nota que vamos fazer isto
com todos os grandes cérebros das outras faculdades, das outras áreas, dos
mesmos polos universitários deste País.
A Assembleia batia palmas em
delírio total.
Presente na Assembleia,
assistindo à mesma, estava Rui Sem Medo, sócio da dita sociedade, representante
da sucursal no Norte de Lismau, o qual questionou o Presidente,
dizendo-lhe:
- Ó Sr. Presidente, V. Exa. não
acha que recrutando todos os BCH`s do País só para Lismau, as outras
cidades e demais localidades serão prejudicadas e não se desenvolverão de igual
forma? V. Exa. não acha que tal se revelará
manifestamente negativo para o desenvolvimento do nosso querido País, por
excesso de centralismo?
E continuava dizendo:
- Veja, levará não só ao excesso
de população na cidade Lismá, ao aumento do preço da construção
por m2, à diminuição dos espaços verdes como, ainda, à
desertificação do resto do País. Mais, trará - a todos - perda de qualidade de
vida e um consequente aumento do custo de vida.
Antonino da Costa que
habitualmente até se apresentava como um homem bem-disposto, tornava-se
irascível se o assunto era Lismá, por isso, respondeu-lhe agressivamente:
- A sociedade de que o V. Exa. faz parte é a “ERBCH ao serviço exclusivo
e único de Lismá, S.A.” – ainda
que o senhor esteja a representar os interesses dela no Norte, percebeu?!
E continuou:
- É de Lismá que se trata.
É em Lismá que tudo se passa e
passará.
Rui era Sem Medo de apelido, mas também o era de homem.
Por isso, retorquiu:
- Caro Presidente, Deputado e futuro Presidente do Governo deste País,
isso está profundamente errado.
Já se esqueceu que é a união que faz a força?!
A vossa obsessão com Lismá será a desgraça do nosso querido Lismau.
A Assembleia desatou - tal qual
como as crianças na hora do recreio – numa barulheira ensurdecedora,
manifestando desagrado com as palavras de Rui Sem Medo.
João não compreendia o porquê de
tal situação.
Decidiu – coisa que não se deve
fazer – abandonar o espetáculo a meio.
Tenha lá Santa Paciência, Sr. Antonino da Costa, mas V. Exa. está
completamente errado! - exclamou.
E pensou para si mesmo:
- Se calhar os problemas deste País e Cidade só se resolvem começando por
mudar os respectivos nomes. Seria um bom começo.
Seguiu caminho, em direcção ao hotel, acorrentado a tais pensamentos.
Olha - disse para consigo – porque não começar por mudar Lismá para Lis-boa?!
Texto de autoria de Lurdes Mesquita Babo
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