Anjo Meu

Sabes, meu anjo? Apresento-te já este aqui ao meu lado, o teu Avô Manel: o casmurro. Não quis comprar uma mesa grande e mais cadeiras para a sala de jantar. Mas não te preocupes para ti haverá sempre lugar. 
Confesso-te que já não me recordava que o coração batia asas e voava. A idade fez com que perdesse a memória sobre como ele pode saltar do peito empurrado pela emoção de um momento. Também já passaram vinte cinco anos desde que experienciei sensações que pensei serem irrepetíveis e ímpares; só que não.
- Será que avó é mãe ao quadrado?! 
Bem que eu já andava desconfiada. 
É que o meu coração batia tão forte, sempre que via o teu crescimento dentro da barriga da tua mãe. E então eu deixava a minha imaginação voar:
- Será que vai ser um bebé lindo e rechonchudo como a mãe?! Será que vai ser um bebé tranquilo como ela?!
Por vezes, deixava também a preocupação aumentar:
- Será que está tudo bem com ele?! Será que é perfeito?!
Ah, esta mania que temos de sofrer por antecipação, não acaba nunca. 
Mas agora tenho-te nos meus braços.
E é tão doce e único este momento. 
Sei que pode não parecer porque as lágrimas de emoção, acumuladas durante nove meses, lavam-nos as faces, molham-nos a roupa, inundam o chão.
Mas são lágrimas de felicidade, não te assustes.
Olha, aquele rosto que irradia felicidade é da tua mãe.
Ah, como ela vai agora descobrir que se pode conjugar o verbo amar até ao infinito. 
Sem pedir nada em troca.
Só de te olhar.
Só de ti cuidar.
Só de te ver crescer.
Só de contigo brincar.
Só de sorrir de felicidade de te ter.
Só de rir com as tuas peripécias.
Só pelo fascínio da tua existência.



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