Lição para a Vida.

Que feitiozinho tem a Leonor.
Há séculos que lhe falo que tem de escolher o bolo do seu décimo aniversário.
Mas como é indecisa esta miúda! 
Agora, diz-me que quer um bolo com uma figura que seja divertida e triste ao mesmo tempo. 
Pergunto-lhe porquê.
Responde-me, como se de uma adulta se tratasse:
É como a vida, Mãe.
É como a vida?
Que raio de imaginação têm as crianças nos dias de hoje.
Acabo por sugerir, lembrando-me da sua paixão pelo circo: 
- E se fizéssemos um bolo, metade seria um palhaço rico e a outra um pobre?
Leonor delirou. E riu-se. 
Riste-te de quê, querida? 
Ó Mãe, lembras-te no circo do palhaço que não conseguia por o chapéu na cabeça porque estava sempre a cair? E quando me perguntou se eu sabia a anedota do "não sei", eu respondi que não sabia e ele disse-me: eu também não. 
Leonor riu-se, de novo, com uma vontade do tamanho do mundo. 
Foi tão divertido, afirmou.
Como são felizes com pouco, as crianças.- pensei.
Mas depressa Leonor regressou ao imaginário do seu aniversário. 
Um bolo com dois palhaços? 
Que giro! 
Vou ter o melhor bolo de sempre!
Temos o palhaço rico, o feliz. 
E o palhaço pobre, o triste, não é Mãe? 
Como Mãe galinha, que tenta sempre proteger os filhos da dura realidade, deu-me vontade de lhe responder afirmativamente.
Sabes Mãe, continuava a Leonor, quando uma amiga minha estiver triste, eu vou-lhe dizer para não ficar porque pode ser feliz como o palhaço rico do meu bolo.
Não resisti. Achei-me mesmo na obrigação de lhe explicar.
Leonor, ser palhaço rico não significa ser feliz ou mais feliz que o palhaço pobre.
Ai não? - contrapôs ela.
Não querida, é como na vida, os ricos não são necessariamente mais felizes que os pobres. 
Riqueza e felicidade são coisas bem diferentes. 
Nunca te esqueças disto.


Texto de autoria de Lurdes Mesquita Babo 

Comentários

  1. Gostei. As crianças por vezes tem essas atitudes como fossem adultos.

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