POUCO PARA SER FELIZ




Meu Deus, que imagem aquela!
Para Maria foram apenas uns segundos; no entanto, jamais arrancarão da sua memória aquele momento.
E as faces de António?! Completamente petrificadas.
Pudera...ao vê-la ser arrastada, por um polvo gigante, areia fora.
Aquilo que era para ser um momento de relaxamento, transformou-se numa enorme tragédia.
Contudo, contrária e incrivelmente ao esperado, Maria sentia-se tão bem nas suas novas vestes.
Apenas desejava, por qualquer modo, expressá-lo a António para o acalmar.
Mas não tinha como fazê-lo; e ele que não lhe conseguia “ler” os tentáculos.
Logo os tentáculos!
Maria delirava com eles.
Sentia-se, tal qual, um desenho animado com superpoderes que usaria em seu proveito; mas também para ajudar os outros.
Sentia-se poderosa com aqueles “braços”; permitir-lhe-iam dar enormes abraços, afagar tristezas e afastar quem não é do bem.
Para Maria, a cabeça do polvo era uma espécie de cápsula protetora gigante onde –inexplicavelmente - se sentia protegida das agruras da vida e das desilusões que este mundo (agridoce) lhe provocava.
Sentia-se feliz (como nunca o fora); mas ao mesmo tempo infeliz.
Recriminava-se por nada fazer.
E como era visível no rosto de António, o desespero e a preocupação.
Só que, nesse mesmo instante, um dos tentáculos varreu-lhe tais pensamentos da mente e como se lhe sussurrasse ao ouvido um segredo disse-lhe:
Preocupa-te apenas em ser feliz.
E Maria fez-lhe a vontade.
Apreciou então o prazeroso bater das ondas na sua cápsula protetora.
E que felicidade nadar com todos aqueles seus novos braços.
Com eles poderia, num gigante abraço, acalmar o mundo.
De repente, António gritou - que tens Maria? - sentindo-a tão agitada.
Maria assustou-se, deu um enorme salto e sentou-se na cama.
Disse-lhe ter sido um pesadelo em forma de sonho.
Que raios António, logo agora que eu estava a gostar tanto, desabafou Maria.
           

 Texto da autoria de Lurdes Mesquita Babo





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